Sasha Grey vem ao Brasil em agosto lançar seu primeiro livro
Se um romancista precisa conhecer bem um tema para convencer um leitor de que aquela história é real, a estrela americana Sasha Grey (foto abaixo) pode ficar tranquila quanto a seu primeiro livro.
Em “Juliette Society”, romance erótico que será lançado no Brasil em agosto pela editora Leya, Sasha narra a história de uma jovem estudante que se envolve com um clube secreto cujo objetivo é simplesmente o sexo. Ela dedica, por exemplo, uma página inteira para descrever uma felação, inclusive com direito a um sugestivo “aahh” na última linha.
“Juliette Society” é o primeiro livro de Sasha, uma bela jovem que ficou famosa na indústria pornô por ter estrelado 271 filmes entre seus 18 e 23 anos, sem pudores, em papéis que lhe renderam prêmios como a de melhor cena de sexo grupal (troféu dividido com mais 17 atores e atrizes), a de melhor cena de sexo oral e outros cuja descrição é inapropriada para um jornal sem restrição de idade. Aos 25 anos, Sasha certamente já teve relações com um número maior de pessoas do que a quantidade de amigos que a maioria de nós tem no Facebook.
Mas, aos poucos, ela passou a atuar em outras frentes: atuando em filmes em Hollywood, como “Confissões de uma garota de programa” (2009), de Steven Soderbergh, lançando a banda experimental aTelecine e, agora, enveredando pela literatura. O romance, sobre o qual ela falou em entrevista por telefone, trará Sasha ao Brasil, entre 19 e 25 de agosto.
Em sua carreira, você parece sempre estar perseguindo novos projetos. Você só tem 25 anos, mas já se tornou uma conhecidíssima atriz pornô, fez filmes em Hollywood, lançou uma banda e agora está publicando um livro. Existe um limite?
Eu acho engraçado pensar nisso. Pouco antes de deixar a indústria pornô, lancei minha própria produtora, para dirigir e produzir meus próprios filmes pornô. Mas foi o maior fracasso da minha carreira. Então aprendi que existe uma separação entre projetos criativos e projetos comerciais. Quando há muito dinheiro envolvido, as coisas são mais difíceis, você nunca sabe o que pode acontecer. Mas, pensando em trabalhos artísticos, sim, eu acho que posso fazer qualquer coisa. Nada me faz parar.
O quanto de “Juliette Society” é baseado em suas próprias experiências?
Alguns dos cenários sexuais que eu descrevo vieram de experiências que eu tive, e tenho certeza de que os fãs mais fiéis vão identificar esses cenários. Mas também há muita coisa no livro que é baseado em histórias que ouvi e li. É uma combinação.
Mas o quanto de você está presente na protagonista do livro, Catherine? Como a história de uma jovem estudante que aceita entrar num clube secreto para explorar sua sexualidade se encontra com sua biografia?
Eu construí Catherine tendo como base um período da minha vida, quando tinha 18 anos, estava na faculdade e pensava em seguir carreira no cinema. Eu tinha necessidade de extravasar, sabia que precisava explorar algo meio indefinido em mim, e acabei usando o pornô como uma válvula de escape. Catherine, por sua vez, não tem essa válvula. Ela cria suas fantasias ultrarrealistas e passa a ter dificuldades para distinguir a fantasia da realidade. Nisso, nós divergimos muito.
Um dos temas do livro é a dificuldade feminina de se expressar sexualmente. Em 2013, ainda há um medo das mulheres em falar de sexo?
Ainda temos muitos problemas com isso. A percepção geral da sociedade é que as mulheres devem ser encaradas como crianças: elas podem ser vistas, mas não precisam ser ouvidas. É insano que a gente ainda leia sobre moças serem recriminadas por falarem de sexo. Lembro um caso de uma garota que mandou uma foto de seus seios, a foto foi parar na internet, e ela acabou se suicidando pelo bullying que sofreu.
No livro você explica que roteiros de cinema são escritos para se adaptarem aos personagens. Mas, depois, diz que essa fórmula não se aplica ao cinema pornô. Qual seria, então, a meta de um roteiro de filme pornô?
Dar prazer (risos).
Mas não há diretores de filmes pornô que tentam algo mais elaborado?
Acho que raramente. É claro que houve alguns diretores com quem fiz trabalhos agradáveis, alguns eram bastante teatrais e se preocupavam com os diálogos. Mas durante 95% do tempo o objetivo era apenas dar prazer para o espectador.
“Juliette Society” é recheado de citações culturais. Em vários momentos você se remete a Godard, Buñuel, Hitchcock e Fellini, entre outros. Você enxerga nesses nomes alguma referência ou inspiração para seu trabalho?
Com certeza. Eles representam independência, mostraram como se pode desafiar o sistema. São pessoas que usaram suas dores ou experiências para criar obras lindíssimas, com histórias que podiam servir para entreter, provocar alguma reflexão e, às vezes, chocar as pessoas.
Como você avalia o sucesso que a literatura erótica tem hoje no mercado? Qual seria a razão para esse sucesso? Seria uma consequência do lançamento de “Cinquenta tons de cinza”, da inglesa E.L. James?
Eu conversei outro dia com minha agente sobre isso. Eu acredito que a literatura erótica sempre vendeu muito bem, sempre foi popular. Isso nunca mudou. O que acho que mudou é que o erotismo passou a ser discutido abertamente e se tornou parte da cultura pop.
Mas essa incorporação do erotismo à cultura pop só aconteceu depois de “Cinquenta tons de cinza”, não?
É que “Cinquenta tons de cinza” nasceu de um site de fan fiction de “Crepúsculo” e se tornou bastante popular entre os fãs de uma série que já era muito conhecida. A autora modificou a trama, alterou os nomes dos personagens e lançou um e-book. O fato de ela já ter uma base grande de fãs curiosos ajudou enormemente. As pessoas leram o livro para imaginar Kristen Stewart e Robert Pattinson como aqueles personagens de “Cinquenta tons de cinza”. Foi perfeito para os sites de fofocas. Mas o livro teve uma importância: permitir que as pessoas discutissem a cultura sadomasoquista sem tabus.
Como foi seu contato com Soderbergh para “Confissões de uma garota de programa”?
Eu fui tema de uma reportagem numa revista de Los Angeles. Muitas pessoas leram, fiquei mais famosa e, por isso, acabei recebendo uma mensagem via Myspace de um colaborador de Soderbergh, dizendo que ele queria me convidar para um teste. Obviamente não acreditei e respondi que só levaria a sério se Soderbergh me telefonasse. Pouco depois, apareceu uma mensagem dele no meu telefone de casa.
Como uma pessoa que não a conhece reage quando você diz que foi uma atriz pornô? Há preconceito com sua antiga profissão?
O maior preconceito vem pela internet, de pessoas que não mostram a cara e agem com uma certa covardia. Mas, quando eu conheço alguém pessoalmente e ele me pergunta o que faço, eu explico, e isso nunca foi um problema. Mas é importante esclarecer que se trata de uma ex-profissão. Já alcancei tudo o que queria como atriz pornô e não pretendo voltar.
Fonte: Portal o Dia.
Indicação de post da Dani do blog As Biritas.